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Escrito em 13/01/2018

Como superar a violência?

Há praticamente meio século a violência tem sido um dos temas mais estudados e debatidos em todos os países, inclusive no Brasil

Juacy da Silva

Juacy da Silva

Professor universitário, titular e aposentado da UFMT, mestre em sociologia, articulista e colaborador de jornais, sites, blogs e outros veículos de comunicação. Email professor.juacy@yahoo.com.br Blog www.professorjuacy.blogspot.com Twitter@profjuacy

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Cartaz da CF-2018

Em boa hora a CNBB – Conferência Nacional dos Bispos do Brasil definiu que o tema da Campanha da Fraternidade de 2018 seria, novamente, o aprofundamento das discussões, análise e busca de solução ou formas de superação para um dos ou talvez o maior drama que não apenas o mundo em geral, mas o Brasil em particular está enfrentando.

Ao longo das últimas três, quatro ou cinco décadas, portanto, há praticamente meio século a violência tem sido um dos temas mais estudados e debatidos em todos os países, inclusive no Brasil. Em todas as universidades, públicas ou privadas, surgiram e continuam surgindo núcleos ou setores voltados ao aprofundamento deste tema. Com certeza milhares de teses, dissertações de mestrado, doutorado ou monografias em cursos de especialização tem surgido com o objetivo de melhor compreender as origens, a dinâmica, as formas e consequência da violência em nosso pais.

A CNBB, seguindo metodologia própria, destaca três momentos ou três etapas na busca do conhecimento para implementar as ações visando superar ou enfrentar problemas que surgem na sociedade, sempre tendo como parâmetro as sagradas escrituras/Bíblia Sagrada, principalmente o Novo Testamento; a Doutrina Social da Igreja e documentos emanados dos Papas como Encíclicas, Cartas Apostólicas, Exortações e outros mais. O método utilizado pela Igreja destaca esses três momentos ou etapas: VER, JULGAR e AGIR.

No Caso presente da CF – Campanha da Fraternidade 2018, em que o tema é a superação da violência, o VER se desdobra em três dimensões: a) identificar as múltiplas formas da violência no Brasil, a partir da realidade local, das paroquias e comunidades, agregadas, posteriormente, para a realidade diocesana, arquidiocesana e/ou regional; b) a violência como Sistema, ou seja, como historicamente a violência em todas as suas formas tem surgido e evoluído em nosso país, qual a relação entre violência e os modelos de desenvolvimento pelos quais o Brasil tem passado desde o período colonial, império, república, as formas de ocupação do território e assim por diante; c) a violência no Brasil atual, com destaque nos últimos cinco ou dez anos.

O JULGAR , é o momento em que, de posse das informações, incluindo dados estatísticos, relatos escritos ou relatos orais, tentamos compreender a questão da violência em suas diferentes formas ou manifestações, utilizando, com certeza, os aportes científicos das diversas áreas do conhecimento como psicologia, psiquiatria, sociologia, direito, antropologia, economia, gestão pública e outras contribuições mais. Todavia, o julgar, no caso da CF e da CNBB, só pode ser a partir do prisma religioso, fundamentado nos ensinamentos da Igreja, com realce ou destaque para as três dimensões: paz, justiça, inclusive justiça social e reconciliação.

Finalmente, o AGIR, ou seja, o que fazer para buscarmos a tão sonhada superação da violência que está destruindo pessoas, destruindo lares e famílias, destruindo comunidades e destruindo o país, deixando na esteira desta destruição muita dor, muita angústia, muito sofrimento e muito custo econômico, financeiro, psicológico, humano e a perda de gerações inteiras que vivem sem esperança de um futuro , um mundo e um país melhores.

"Não tem sentido jogar para os cidadãos a responsabilidade das ações que cabem, precipuamente ao Estado ou seja aos poderes públicos

Neste aspecto particular do AGIR, é também importante uma visão global e ao mesmo tempo compartilhada, no sentido de que não cabe a Igreja, seja a Católica ou de qualquer outra denominação, pretender ocupar os espaços que cabem, por responsabilidade, ao Estado, aos poderes públicos, às universidades, as demais organizações não governamentais e nem mesmo o papel e o espaço que cabem à família e outras organizações como entidades sindicais ou partidos políticos.

Na busca da compreensão, do aprofundamento das análises e na elaboração dos planos, programas, projetos e ações para enfrentar os desafios das diversas formas de violência que existem em nosso país, é importante que haja integração de esforços, de recursos humanos, econômicos, financeiros e orçamentários para que os resultados sejam alcançados.

A primazia das ações cabe com certeza ao Estado, afinal é o Estado ou seja, os organismos públicos quem tem o chamado monopólio da violência, o poder de policia. É o Estado, através dos poderes legislativos Federal (Câmara Federal, Senado e Congresso), estaduais (Assembleias Legislativas) e Municipais (Câmaras municipais), quem tem o poder de legislar, elaborar, mudar, e criar novas Leis, definindo os limites das ações individuais e as penalidades para quem transgride as leis e normas sociais.

É também o Estado quem cria, aumenta e cobra impostos, tributos, taxas e contribuições para custear as ações públicas e manter em funcionamento seus aparatos repressivos, as forças policiais e o Sistema judicial e também as políticas públicas. Não tem sentido jogar para os cidadãos a responsabilidade das ações que cabem, precipuamente ao Estado ou seja aos poderes públicos, nas diversas áreas e desafios que o país enfrenta e ao mesmo tempo continuar o Estado abocanhando quase 38% de tudo o que a população produz, para alimentar uma máquina falida, corrupta e dominada pelo fisiologismo e privilégio das elites, donas do poder.

É neste contexto, que precisamos começar a participar, refletir e contribuir para que a CF 2018 possa trazer uma luz a um tema tão atual, tão complexo e que tanto faz a população sofrer.

O assunto continua nos próximos artigos.

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